sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Desentoa

Amores nem sempre são serenos.
Nem sempre o que sente é pra sempre, tem sentimentos que são inconstantes.
Queria um júri pra dirimir essa dor, que estampa a cara e o coração.
Prender culpados, buscar indícios nesse enredo julgado.
Queria o doce ignorância de quem não sabe o que é a razão.
De  não ter que lutar pelo que se quer, não ter vontade de colocar a voz
Nem ter que ser chamada de descontrolada, nem insistir em ser dois.
Um julgamento acertado, com absolvição das palavras e exclusão dos fatos passados.
Queria a paz alcançada por aqueles que vivem sem dor, entorpecidos pela estrada, ou pela falta de um amor.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Versos

Singelo, nostálgico gesto...
Canção repete vicia meu ouvir
Repões meus brios com um único olhar pra mim
Seresta? Canções, bolero e serenata não me alcançam.
Nem este ou aquele - nem versos soltos em tango
Sou tanto que nem posso mais me ouvir.
Sou dança, enquanto tudo descansa.
Me ponho a testar a  rima
Sou verso pronto, feito na hora
Como uma lembrança que vem e logo, tão logo vai embora.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vivo - Lenine

Precário, provisório, perecível;

Falível, transitório, transitivo;

Efêmero, fugaz e passageiro

Eis aqui um vivo, eis aqui um vivo!

Impuro, imperfeito, impermanente;
Incerto, incompleto, inconstante;
Instável, variável, defectivo
Eis aqui um vivo, eis aqui...

E apesar...
Do tráfico, do tráfego equívoco;
Do tóxico, do trânsito nocivo;
Da droga, do indigesto digestivo;
Do câncer vil, do servo e do servil;
Da mente o mal doente coletivo;
Do sangue o mal do soro positivo;
E apesar dessas e outras...
O vivo afirma firme afirmativo
O que mais vale a pena é estar vivo!

É estar vivo
Vivo
É estar vivo

Não feito, não perfeito, não completo;
Não satisfeito nunca, não contente;
Não acabado, não definitivo
Eis aqui um vivo, eis-me aqui.
[Lenine]

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Tempo humano


Meu tempo ruge,
mas não ouço
Meu tempo esgota, o ignoro.
Meu tempo urge e eu imploro.
O tempo é curto e minha paciência também.
Eu curto o tempo quando me sobram razões pra querer bem.
De tempo em tempo eu conto as horas, pra ver chegar ou  ir embora.
Meu tempo humano sempre se desloca... ora é estimado ora é jogado fora.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Silencia

"Saiba também calar-se para não se perder em palavras"
Clarice Lispector

Ansiedade, mal deste século. 
Mal daqueles que só esperam  pelo que virá
Sem estar pronto para o que aqui está.
Na ansiedade não paramos pra ler, pra entender...
Na ânsia não observamos o outro, não lemos o semelhante, 
Não há semelhança.
Tempo,
Tudo urge!

Acostumados a respostas prontas nos ataviamos aos  "saiba que..." 
Nos atamos ao vicio de responder, 
Como se pra tudo houvesse resposta.
Como se para cada sensação existisse uma palavra posta.
Mas e o silêncio involuntário? Onde está o instante mudo, calado?

Sem palavras caminhamos, 
Mesmo falando somos mudos, 
mesmo sabendo somos leigos, 
mesmo sentido somos nada.
Por que nem [o] tudo tem resposta, nem a vida está disposta a sinalizar o caminho.
Se fazer saber é todo dia 
é no silêncio ou na agonia,
é no descanso e na alegria... é às vezes no "sem palavras" e  no sem melodia. 
É quando - a gente sem querer se perder em palavras - se silencia.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Indicifrável

Passo, permite largo
Sonhos se tornam reais
Ouro e ventura são coisas diferentes
Mas em ambas "coisas" estais

Efeito - permanente 
Reações medicamentosas me assustam
Mas há riso, há cuidado
Mesmo quando uivam 

Sentinela do meu ser as vezes se descuida, eu acho
Por quanto tenho medo,
Por quanto mantenho a luz acesa,
Embora o dia não apareça,

Tão logo me encaixo em crer.
Que as lutas terrenas só aqui na Terra as hei de viver,
Por que depois será com no sonho, acordado ou não, disponho
a sentir-me indecifrável.